Já reparou como hoje em dia a gente vê as ruas como passagem e nunca como destino? No entanto elas estão lá, ao alcance de todo mundo, e são cheias de possibilidades de lazer, esporte e cultura, como prova a Bela Rua, uma associação que nasceu com a proposta de transformar os espaços públicos em lugares muito mais bonitos, seguros e bacanas para as pessoas.

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Pra isso, a associação idealizada por Jennifer Heemann, Renato Forster e Juliana Barsi faz várias intervenções, convidando as pessoas a darem sugestões e a refletirem sobre o espaço urbano.

Contou com a participação deles, por exemplo, o projeto Curativos Urbanos, que propôs a colocação de band-aids coloridos nas ruas pra chamar a atenção para o problema dos buracos. Ao todo, a iniciativa foi replicada em 9 cidades brasileiras além de Roma e Paris!

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Já em sua última empreitada, a ferramenta (Rua)³, a Bela Rua levou um cubo gigante, com bancos e mesas, para a praça Oliveira Penteado, no Butantã, onde ouviram durante 20 dias as propostas das pessoas pra começar a transformar o bairro. Na entrevista que a gente fez com a Jennifer, ela conta sobre a associação, a ferramenta e compartilha um pouquinho das ideias que registrou.

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Como surgiu a ideia de convidar as pessoas pra viverem o lado de fora?

Surgiu da nossa própria vontade de viver o lado de fora. Há uns 3 anos começamos a nos perguntar por que a gente gostava de caminhar por certas ruas ou de ficar em alguns espaços públicos, mas não gostava de muitos outros. Percebemos que há diferenças entre essas ruas e espaços como, por exemplo, o tipo de vista que ele oferece, a qualidade das calçadas e dos mobiliários, os usos que ele possibilita (sentar, tomar café, conversar, brincar…).

Notamos que vivemos a cidade com os 5 sentidos e que se as pessoas não estão nas ruas – ou não estão felizes com elas – é porque elas não são atrativas para os 5 sentidos, não convidam a viver a cidade. Então pensamos: precisamos fazer com que cada rua e espaço público seja mais atrativo e convidativo, assim as pessoas vão de fato viver o lado de fora, deixando a cidade mais alegre e segura. O próximo passo foi estudar formas de fazer isso, e foi assim que chegamos ao modelo hoje implementado pelo Bela Rua.

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Quais são algumas das coisas que as pessoas mais sentem falta em seus bairros?

Nas pesquisas realizadas durante o projeto (Rua)³, na praça Oliveira Penteado – Butantã, a maioria das pessoas diz sentir falta de música, café e wifi, assim como de espaços para encontrar amigos. Basicamente, o que elas estão dizendo é que querem mais atividades culturais (como shows), mais opções de usos (café e wifi) e melhores estruturas para o encontro de pessoas (bancos, mesas, natureza).

Bairros que oferecem uma mistura de usos (residências, escritórios, restaurantes, praças, equipamentos culturais) costumam ser os mais agradáveis para se viver, pois você pode fazer tudo a pé e a presença de pessoas nas ruas faz com que o bairro seja mais seguro, pois as próprias pessoas, sem saber, zelam pela sua segurança. É o conceito de “olheiros das ruas” criado por Jane Jacobs, uma autora de extrema importância nesta área.

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Ao longo do projeto, quais foram as ideias mais criativas que vocês já receberam?

Uma moradora do Butantâ deu a ideia de realizar aulas de dança de salão na praça! Para mim, essa foi a ideia mais criativa – pois aula de dança de salão e praça não é uma associação muito comum de fazer. Mas surgiram várias outras ideias interessantes, como criar um boteco, colocar redes para descansar, promover eventos com contos e danças populares ou fazer uma fogueira por causa do frio. O objetivo do projeto era justamente esse: oferecer, temporariamente, diversas atividades para que as pessoas se inspirassem e dessem novas ideias.

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Como foi a experiência do Curativos Urbanos?

Foi incrível, a gente aprendeu muito com essa experiência. O objetivo da ação era chamar a atenção das pessoas para as condições das calçadas. Elas são cheias de buracos e até degraus em alguns bairros, o que dificulta muito para caminhar. Aliás, é um absurdo, porque pense nas pessoas que têm alguma dificuldade de locomoção – elas simplesmente não podem se locomover pelas calçadas.

A gente não tinha muita expectativa com o projeto, a ideia era só colocar alguns curativos coloridos e pronto. Mas vimos que por causa do seu bom humor, o projeto chamou mesmo a atenção até de veículos de mídia. E o melhor: sempre que o projeto era divulgado, as matérias também falavam como deveria ser uma calçada ideal e quem é responsável por elas (muita gente não sabe que o responsável pela manutenção da calçada é do proprietário do imóvel. Se soubessem, essa lei talvez fosse mais obedecida ou até questionada). O melhor de tudo foi ver pessoas de outras cidades replicarem a ideia. Vimos que há muitos cidadãos preocupados e querendo agir, e que estão lutando por cidades melhores.

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De que forma vocês acreditam que as pessoas podem começar a transformar a cidade?

A primeira coisa é mudar a forma de pensar. Em vez de pensar que a rua não é de ninguém, temos que assumir que a rua é de todos, é nossa. Não podemos esperar que o governo resolva tudo. Se estamos incomodados com alguma coisa, precisamos fazer algo a respeito disso.

Na verdade, muitas pessoas já estão agindo. Tem grupos que se reuniram para cuidar de praças, limpando-as e criando hortas comunitárias. Outros que deixam as ruas mais bonitas com trabalhos em crochê ou pinturas. E tem quem faça eventos, colocando bancos improvisados e chamando uma banda de amigos para tocar. O ideal é começar com algo simples, que seja viável de fazer até sozinho. O Curativos Urbanos é um exemplo. Ele não arrumou as calçadas, mas chamou a atenção e fez barulho. Conscientizar também é importante. Mas um bom primeiro passo, talvez, seja analisar a rua da sua casa e pensar: o que eu posso fazer para que esta rua seja melhor para as pessoas?

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