Vermelho é um cara tão quieto que poderia passar despercebido, mas sua obra não deixa. Tímido, ele parece bem desconfortável nos primeiros 10 minutos de entrevista, mas basta engatar a falar sobre arte que ele parece ser transportado para outro mundo, o seu mundo, onde vivem criaturas lúdicas e góticas. Seus personagens poderiam ser fofinhos, mas a quantidade de emoção contida ali não permite.
Primeira página de um dos seus sketchbooks com desenho de sua esposa, Jü Violeta
Filho de um músico, ele adquiriu com o pai o hábito de assistir desenho animado e começou a desenhar logo cedo. Logo depois dos desenhos animados vieram as histórias em quadrinhos. Mas Vermelho não comprava os quadrinhos apenas para ler as histórias, mas para estudar os traços dos artistas.
Depois de várias anos de trabalhos informais, ele decidiu, no início dos anos 2000, dedicar-se somente à arte. Trabalhou com cenografia para teatro, tv, vitrines e parques de diversão até que resolveu focar completamente em seu trabalho autoral. Segundo ele, o grafite é o que lhe dá mais prazer por ser livre e imprevisível, pois o desenho é concebido já com a lata de tinta na mão, de acordo com o movimento da rua e do clima daquele dia.
“Gosto de tranquilidade, mas também gosto de uma avenida movimentada, poluída, com barulho, te dá ideia. A cidade me alimenta nesse sentido” .
Porém, seria muito equívoco classificá-lo como “grafiteiro” ou com qualquer outro rótulo. Se a base é o muro de um prédio abandonado, a página de seu sketchbook ou uma caixa de ferramentas com mais de 60 anos encontrada na casa do avô da sua esposa, tanto faz, Vermelho é artista e ponto. Apaixonado por antiguidades, ele curte pensar que uma chave comprada em uma feirinha já fez parte da história de alguém, agora faz parte da dele e, assim que ele transformá-la em obra de arte fará parte da vida de tantas outras pessoas.
Ele também gosta de ajudar causas nas quais acredita, como a questão da proteção dos animais. Apesar de não sair nas ruas questionando diretamente as pessoas ele doa obras suas para serem leiloadas com a renda totalmente revertida para as ONGs, entre elas a MoveInstitute e a TETO.
Quando perguntamos sobre o que ele curte fazer além da arte a resposta sai meio como uma desculpa: “Eu tenho um problema sério porque além da arte sobra pouco. Eu respiro arte, meu lazer é arte. Nada disso é obrigação. Pra mim, tanto faz se é domingo, eu pinto por prazer.” Um problema pra ele, mas inspirador para o resto de nós.
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