O homem que ouve as cores

– Oi, prazer, eu sou o Neil.
– Ah, oi Neil, beleza? Que você conta?
– Eu sou um ciborgue.

Se algum dia você trombar com o Neil Harbisson na rua, essa conversa pode muito bem acontecer. E sabe o pior? O cara não estaria mentindo. Ele é, oficialmente, o primeiro ciborgue do planeta Terra. Sério. Neil é metade homem, metade máquina. Bom, pra falar a verdade, a proporção está mais pra 99% homem, 1% máquina – mas isso não é importante. O que conta mesmo é o superpoder que ele ganhou com a ajuda da tecnologia.

Em 1982, Neil nasceu com uma doença estranha, a acromatose. Por causa dela, ele só conseguia ver o mundo em branco e preto. “Eu até duvidava que as cores existiam mesmo”, conta ele. Hoje, graças a uma tiara estranha que ele usa o tempo todo na cabeça, o Neil consegue ouvir as cores. E sabe o que mais? Ele conhece mais cores do que eu e você!

No começo, quando o Adam Montandon criou o olho eletrônico que fica flutuando em cima da cabeça do Neil, em 2004, o equipamento só conseguia ver poucas cores. Agora, ele capta 360 cores, que é uma escala muito parecida com a percepção humana normal. Mas, calma, tem mais. O Neil sabe quais são os sons de algumas cores que ninguém nunca viu, os infravermelhos. E não demora muito pra ele ouvir também os ultravioletas.

Agora, ele anda por aí procurando as músicas mais gostosas de ouvir. “As paisagens bonitas, como o mar e a natureza, não têm sons bacanas. Mas o supermercado, que é todo colorido, cria uma música muito boa”, ele disse. “Você pode não acreditar, mas a cara do Príncipe Charles tem uma música bem legal!” – ok, né? Tem gosto pra tudo. “Outra coisa que eu gosto, é de pintar música. Fiz um quadro com a ‘Baby’, do Justin Bieber.” – ok, né? Tem gosto pra tudo. [2]

Não demorou muito pra as pessoas ouvirem a história do Neil e terem ideias. “Recebi muitas cartas de gente querendo expandir seus sentidos, e criei a Fundação Ciborgue.”, explica. Por lá, os funcionários ajudam as pessoas a se tornarem ciborgues, defendem os direitos dos ciborgues e promovemos o uso da cibernética como parte do nosso corpo. “É muito humano modificar o corpo humano com criações humanas” – é a opinião do Neil.