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Arte e design, design e arte

Por Enrico Salis.

Sempre fui fascinado por tudo que se coloca na fronteira entre design e arte. Na faculdade, ouvia meus professores dizerem que design tinha mais a ver com “resolver problemas reais”, enquanto a arte era, mais especificamente, a representação do emocional de cada artista ou da realidade de acordo com a sua própria sensibilidade.

Uma outra definição muito usada era que “design é tudo que tem função! Já a arte não se preocupa com a funcionalidade”, o que, sem especificar o conceito de funcionalidade, equivale a não dizer nada. É claro que uma cadeira serve pra sentar, mas por que um quadro não pode servir pra emocionar? Todos nós precisamos de emoções e ainda hoje pagamos ingresso no cinema ou compramos livros pra que alguém nos conte uma bela história.

Design da artista Devin Kelly para uma série de livros sobre os limites entre design e arte.

Nos últimos anos, a demarcação entre as duas disciplinas vem ficando cada vez menos reconhecível e, na minha opinião, sempre mais interessante. Os diferentes meios de expressão artística foram evoluindo e se misturando num processo contínuo que está longe de acabar.

Como prova, basta pensar nos colecionadores de peças de design assinadas e até na primeira edição da IDA, uma exposição paralela à ArtRio que mostrou produtos e objetos de design com certa vocação artística.

O designer e artista Sebastian Errazuriz em seu estúdio.

Se tivesse que dar um nome às diferentes sub-disciplinas que separam o design da arte, diria que “esculturas funcionais” e “mobiliário escultural” representam bem o verdadeiro divisor de águas entre os dois universos. Nesse sentido, um dos designers contemporâneos que mais se destaca é o chileno Sebastian Errazuriz. Ao longo da carreira, ele soube trabalhar bem com as duas coisas, realizando projetos ora mais próximos da arte, ora do design.

A Antiquity, por exemplo, é uma estante de madeira montada ao redor de uma escultura clássica. Ou seja, podemos dizer que é uma escultura com funcionalidade, já que tem vários apoios pra livros e objetos.

Antiquity, de Sebastian Errazuriz.

Outro projeto interessante é o Explosion, um buffet feito por dezenas de peças que podem deslizar umas nas outras. Se o móvel fechado mede pouco mais de um metro, quando completamente aberto chega a 6 metros de largura! Nesse caso, o ato de abrir transforma o buffet, aparentemente normal, em uma escultura que não caberia em um apartamento. Mobiliário sim, mas escultural!

Explosion, de Sebastian Errazuriz.

E não é só o design autoral que gosta de se aproximar da arte! O projeto Lingotto, do designer industrial Giulio Iacchetti mostra com simplicidade como uma forma de gelo em silicone pode usar o storytelling pra transmitir uma importante mensagem social, como a do valor da água.

Formas de gelo Lingotto, de Giulio Iacchetti.

Sobre Enrico Salis: Formado pela conceituada Universidade Politecnico di Milano, o Enrico Salis é italiano mas mora no Rio de Janeiro, onde montou o estúdio Enrico Salis Design. Além de criar peças de mobiliário clean e contemporâneas, ele também faz várias pesquisas voltadas principalmente para o encontro de design e arte. É ele quem assina todos os móveis da linha Eme, da Oppa.

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