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Apesar de não haver um consenso entre os anos limítrofes de cada geração, os millennials, da geração Y, nasceram entre meados dos anos 80 e 90 e caracterizam-se por ser a primeira geração verdadeiramente conectada e globalizada.  Desenvolveram-se em ambientes urbanos, em uma época de grandes avanços tecnológicos, prosperidade econômica, facilidade material e com o domínio da virtualidade como sistema de interação social e midiática. Muitos traços dos millennials representam uma compensação pela lacuna material de seus pais, da geração X, que tiveram muito mais dificuldades e não puderam se dar muitos luxos.

Consequentemente, os estilos de vida da geração do milênio se refletem em suas casas e nas diferentes maneiras de morar encontradas por eles, as quais precisam ser muito mais flexíveis e com móveis multiuso ou retráteis, que permitem a realização de atividades diferentes em um mesmo espaço, que nem sempre é farto. E menciono vários estilos de vida justamente por se tratar da geração mais plural da história, pois ao invés de neutralizar suas diferenças, eles têm orgulho de expressá-las, ao contrário das tribos dos anos 80, que tinham opiniões bem radicais. Portanto, é possível ser surfista, dj, roqueiro, nerd, cinéfilo e designer ao mesmo tempo.

Os millennials redefiniram o sucesso. Antes de sonharem com a casa e o carro, eles investem o seu dinheiro em experiências, viagens e aventuras. Inclusive é muito mais bacana compartilhar com os seus amigos e em suas redes sociais, as suas últimas viagens, do que os bens materiais que foram adquiridos. Dessa maneira, essa geração está alugando mais do que comprando bens, com exceção dos gadgets tecnológicos, pois esses sim, merecem todo o investimento. Com isso, esses jovens adultos demoram mais para sair da casa dos pais; e quando saem, são planos de curto prazo, e muitos moram de aluguel inclusive para não criarem raízes com um determinado bairro ou cidade, já que nunca sabem qual será a próxima experiência pessoal e profissional. E essa memória e bagagem cultural acabam se expressando em suas casas, através de murais de fotos e objetos trazidos de lugares especiais.  

É uma geração familiarizada com o descarte e com a atualização das coisas, principalmente em função da natureza efêmera dos programas computacionais. Ao invés de preferirem ter móveis que duram uma vida inteira como nas casas de seus pais e avós, os milennials não podem e não querem investir nesse tipo de mobiliário. E o mesmo ocorre na moda, com o sucesso das marcas fast fashions, que vendem roupas que duram uma estação, e cujos preços são compatíveis com essa vida útil. Isso me lembra a experiência que tive quando morei em Barcelona há dez anos atrás, e pude montar a minha casa com móveis da Ikea, uma rede sueca que vende móveis muito acessíveis e com design. Para essa experiência, de montar uma casa temporária por dois anos, foi perfeito.

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E pelo fato dessa geração ter outras prioridades além de investir os seus recursos nos bens materiais, acabam se identificando com soluções com ótimo custo-benefício, como é o caso das tintas, que é um recurso barato e imprime muita personalidade ao ambiente.

A presença definitiva da internet, o consumo globalizado e o hábito crescente de viajar promovem conexões estéticas e comportamentais ao redor do mundo, que democratizam o acesso a tudo que é produzido em todos os cantos do planeta no mesmo instante. Dessa maneira, os millennials anseiam pela estética e pelo design que apresenta soluções às questões de hoje.

As esferas pessoal e profissional dessa geração se mesclam muito. Eles se divertem enquanto trabalham e trabalham enquanto se divertem, desempenham múltiplas tarefas ao mesmo tempo e estão menos vinculadas às grandes corporações com planos de carreira e sistemas hierárquicos tradicionais. Têm um perfil mais questionador e empreendedor, e atuam muito como freelancers, e consultores após uma certa experiência. Como consequência, e aliado à tecnologia, muitos trabalham em casa, em seus home offices ou ateliês, que precisam ser realmente eficientes e ergonômicos; ou também em co-workings, em busca de networking e mais espaço. As empresas também estão se reinventando, e hoje em dia, muitas delas são mais informais e têm mais cara de casa, enquanto as casas têm mais cara de escritório.

Por último, a casa da geração Y, precisa acomodar todos os gadgets, que além de permitirem toda uma construção da vida social dessas pessoas, viabilizam o comércio online tanto de produtos novos como usados, com preços muito atraentes.

Em suma, essa casa tecnológica, flexível, fluida, colorida, mutável, descontraída, com um apreço pelo design, e com uma certa mescla de estilos, representa as múltiplas maneiras de morar dos millennials.

Adriana Tenuta, arquiteta e designer de interiores

Fundadora do blog Casa Cosmopolita